segunda-feira, 23 de abril de 2007

Nova mensagem enviada ao Sr. Primeiro-Ministro a 23 de Abril de 2007


Ref. GOGPM23042007


Exmo. Sr. Primeiro-Ministro

Peço licença para o incomodar uma vez mais.
Volto novamente com a questão do Novo Aeroporto.

V. Exa. tem dito que o aeroporto tem de ser construído porque Portugal não pode mais esperar.
É um argumento reconhecidamente válido, e a sua validade intrínseca – o problema do tempo que foge – ninguém a põe em causa.

Simplesmente, a questão é que há argumentos, também eles válidos, de sinal contrário. E muito mais fortes, cremos.
Deles passo a dar conta, sob a forma de pergunta-resposta-comentário.

1)
O aeroporto é expansível para mais de duas pistas?

Ota - não, segundo o Relatório Aéroports de Paris, disponível no site da NAER.
Poceirão/Faias - sim, segundo um Estudo feito no Instituto Superior Técnico: até uma vez e meia e duas vezes a área da Ota, respectivamente.

Conclusão: se se construir o aeroporto na Ota, privar-se-á Portugal, durante 50 anos – na hipótese mais optimista (porque antes não se fará certamente outro aeroporto) – de ter um grande aeroporto na zona da Estremadura.

2)
O aeroporto é integrável na rede de portos marítimos (Sines, Setúbal, Lisboa)?

Ota - não
Poceirão/Faias - sim, interligando Lisboa, Setúbal, Sines, o "triângulo portuário" do Sul

Se o Sr. Primeiro-Ministro mandar construir o aeroporto na Ota, compromete em pelo menos 50 anos (novamente: porque antes não se fará certamente outro aeroporto) a hipótese de os portos marítimos estarem interligados por uma rede que os liga por sua vez a um aeroporto próximo.
O aeroporto na Ota só beneficiará Espanha e os seus portos cada vez mais desenvolvidos, em prejuízo de Portugal.

3)
a) O aeroporto é capaz de chamar os residentes da Estremadura Espanhola?

Ota - não, porque o aeroporto ficará na linha ferroviária Lisboa-Porto, muito afastada da Estremadura Espanhola
Poceirão/Faias - sim, porque fica na intersecção da linha ferroviária Lisboa-Badajoz

b) O aeroporto favorece a "fuga" dos residentes na Estremadura Portuguesa, e mais, ainda, dos residentes no Alto Alentejo, para aeroportos espanhóis, provavelmente para o de Badajoz? (Que será construído de certeza absoluta se o aeroporto for na Ota.)

Ota - sim
Poceirão/Faias - não

c) A construção do aeroporto poderá evitar a construção de um aeroporto em Badajoz?

Ota – não
Faias/Poceirão – certamente

O aeroporto na Ota favorecerá o poder da Coroa espanhola, que acabará por construir um aeroporto em Badajoz – com taxas mais baratas (porque mais fácil de construir) do que a Ota, logo mais atractivo.
Pelo contrário, se for construído nas Faias/Poceirão, extinguirá quase por certo o interesse/rentabilidade de Espanha no aeroporto de Badajoz. Ganha Portugal.

Sr. Primeiro-Ministro: a construção do aeroporto na margem Sul é a única maneira de evitar a construção de um grande aeroporto na Estremadura Espanhola.
Coincidentemente, há não poucos especialistas que garantem que ali poderão estar as melhores condições para a construção do grande aeroporto internacional que Portugal precisa.
Vamos deitar fora as melhores oportunidades que nos aparecem?
Vamos construir na Ota para estar inaugurado daqui a 10 anos um aeroporto que é pouco maior do que o último dos 4 terminais de Barajas (Madrid), acabado de inaugurar? Vamos ceder ao argumento de que Portugal é pequenino e por isso será sempre pequenino ao pé de Espanha?
Houve momentos na História em que Portugal ultrapassou Espanha, e tudo por uma única razão: aproveitou a grande vantagem comparativa geográfica que tem – a fronteira com o Atlântico.
Essa fronteira deu a Portugal a centralidade histórica que tem hoje.
Que Espanha nunca teve e sempre cobiçou.
Em pleno séc. XXI o Sr. Primeiro-Ministro José Sócrates quererá ficar na História por ter ajudado Espanha? Só porque não entregou os estudos a todos os nossos maiores especialistas, que com legitimidade – em nome de Portugal e dos portugueses, pois claro! – reclamam fazê-los?

Sr. Primeiro-Ministro, tenha temor à História. Tenha temor à História.

4)
O aeroporto atingirá os 50 milhões (número muito optimista para a Ota) de passageiros daqui a 37 anos, a uma taxa de crescimento de 4% ao ano, e em 30 anos, se a taxa for de 5% (dados muito conservadores), partindo dos actuais 12 milhões de passageiros/ano registados na Portela?

Ota – sim, e ficará saturado
Poceirão/Faias – sim, e poderá ser expandido

Uma vez mais, que fazer depois da saturação? Não podemos seguir exemplos estrangeiros (como Heathrow) para justificar a reduzida dimensão da Ota: também no estrangeiro há erros, e muito graves. Sr. Primeiro-Ministro. Estaremos condená-los a imitá-los, por falta de discernimento?
O aeroporto tem de ser projectado para 75-100 anos. E Portugal não pode deixar passar a oportunidade de investigar se pode ter um aeroporto projectado nessas condições.
É que há especialistas que entendem que pode. Ignorá-los será um crime de lesa-Pátria.

5)
O aeroporto fica fora de quaisquer corredores ecológicos determinados pelas entidades oficiais?
Ota - sim
Poceirão/Faiais - sim (Não confundir com Rio Frio, que hoje já ninguém defende)

É preciso entregar a diferentes estudos de especialistas os nossos mapas.
É preciso criar grupos de trabalho independentes (pelo menos três) que compitam entre si como consultores. Esta é a melhor prática em concursos públicos de consultoria. Digo-lho na qualidade de jurista. Mas um procedimento tão simples como este foi esquecido nos estudos mais recentes.

6)
O aeroporto representa um risco de colisão de aves com aeronaves significativo?

Ota – tudo indica que o risco é compatível com padrões de segurança toleráveis.
Poceirão/Faias - matéria ainda não estudada, tanto quanto sei (não confundir com Rio Frio, mais uma vez).

Mas a Força Aérea dispõe de dados para a área do Montijo e Alcochete. Faias e Poceirão só poderão ser melhores, nunca piores.
É preciso pôr os nossos melhores investigadores a estudar esta matéria, que muito urgente se torna.
Os estudos estão atrasados. Mas não se apressam saltando por cima deles. Apressam-se mandando realizá-los, Sr. Primeiro-Ministro.

7)
O aeroporto foi dotado de uma estação meteorológica conforme às normas internacionais, durante os anos de estudo prévio?

Ota - não, como confirma a própria consultora Parsons
Poceirão/Faias - não, até hoje, tanto quanto sei

Sr. Primeiro-Ministro: deve ser ordenada quanto antes – no interesse de Portugal – a instalação de estações meteorológicas certificadas em todos os sítios da Estremadura em que se preveja poder ser construído um aeroporto. São eles, pelo menos, Ota, Faias, Poceirão. Não há a tempo a perder. É Portugal quem sofre as consequências da omissão.

8)
O aeroporto terá uma cidade aeroportuária?

Ota – sim, mas muito diminuta. Dificilmente se poderá chamar “cidade aeroportuária”
Poceirão/Faias – sim. Relembre-se a plataforma logística já prevista para o Poceirão.

Estas são apenas algumas questões de que lembrei muito espontaneamente. Os especialistas têm muitas mais.




Sr. Primeiro-Ministro:

Compreendo a pressa de V. Exa.

Mas o Sr. Primeiro-Ministro tem de estar alerta – ou pedir que o alertem (que não haja melindre por causa disso) – para os erros que são cometidos por todos os políticos, independentemente das suas qualidades, quando agem sob pressão.

É que não se compreende a obsessão do Governo que V. Exa. chefia em relação à Ota. E por que razão não estimula a ideia de se construir um aeroporto melhor, maior e mais barato? Há reputadíssimos especialistas que afirmam a possibilidade. Por que não lhes é dado mais espaço?
O argumento do tempo não pode ser argumento: pressa por pressa, então construa-se onde a maioria dos especialistas diz que é melhor. Ora a maioria diz que é melhor na margem Sul: Poceirão ou Faias. Se a dificuldade é escolher entre estes dois, que se atire uma moeda ao ar: qualquer um deles é melhor que a Ota. Prejudicamos dois sítios bons a favor de um mau?...
Se isto não é um exemplar desperdício de oportunidades...

Mas pode ser que eu – e todos quantos estudaram o problema – não estejamos a ver bem.

Caso em que pedimos ao Sr. Primeiro-Ministro:

a) que explique aos portugueses onde estão as vantagens comparativas – porque tudo na Administração, Sr. Primeiro-Ministro, é uma questão de comparação – de construir o aeroporto na Ota;

b) e como explica aos portugueses o sacrifício dos interesses que seriam realizados se o aeroporto ficasse na margem Sul do Tejo.

Interesses assim adiados por pelo menos meio século. Ou por um século. Ou por mais.
Interesses que, se realizados, permitiriam a Portugal entrar em grande no séc. XXI.
E a V. Exa. deixar uma marca indelével na História Portuguesa.

Enquanto o Sr. Primeiro-Ministro não responder a estas questões concretas, este cidadão que se subscreve estará muito inquieto.
E, julgo, também estará o País que elegeu V. Exa. para lhe dirigir os destinos.

Mas acredito que no mais íntimo do Sr. Primeiro-Ministro começa a surgir a ideia de que a questão do Novo Aeroporto em geral e a questão da Ota em particular têm de ser seriamente reavaliadas, custe o que custar e custe a quem custar.

Subscrevo-me enviando ao Sr. Primeiro-Ministro os meus respeitosos cumprimentos,

Gabriel Órfão Gonçalves

3 comentários:

Gabriel Órfão Gonçalves disse...

Recebi esta mensagem por correio electrónico:

«Refª nº. 4158, de 30.ABR.2007

Acuso a recepção do e-mail de V. Exª de 2007.04.23, dirigido ao Gabinete do Senhor Primeiro-Ministro, que mereceu a melhor atenção e informo que o mesmo foi enviado, nesta data, ao Gabinete do Senhor Secretário de Estado Adjunto, das Obras Públicas e das Comunicações face à delegação de competências existente.

Com os meus melhores cumprimentos

Gabinete do Ministro das Obras Públicas

Transportes e Comunicações»

Gabriel Órfão Gonçalves disse...

E mais esta:

«Exmo. Senhor

Encarrega-me o Senhor Primeiro Ministro de acusar a recepção do e-mail de V. Exa., que agradece, e de informar que lhe foi prestada a devida atenção.

Com os melhores cumprimentos

Fernando Soto Almeida
Assessor Administrativo
(por delegação)

Gabinete do Primeiro Ministro
Rua da Imprensa à Estrela, 4 – 1200-888 Lisboa – Portugal
Tel.: (+351) 21 392 35 00 Fax: (+351) 21 395 16 16

pm@pm.gov.pt

P Antes de imprimir este e-mail pense que estará a gastar papel e tinta. Proteja o ambiente.
__________________

Ent.ª N.º 7064

P.ºN.º 8727/2006

FV

Advertência

Este correio electrónico foi assinado electronicamente através da utilização de um certificado de assinatura electrónica qualificada, que lhe dá força probatória legal nos termos do artigo 3.º do regime jurídico dos documentos electrónicos e da assinatura electrónica (Decreto-Lei n.º 290-D/99, de 2 de Agosto, alterado pelo Decreto-Lei n.º 62/2003, de 3 de Abril).

Caso deseje validar a assinatura do emissor, deve descarregar, para o seu computador pessoal, os certificados da entidade emissora no sítio na Internet: www.ecce.gov.pt/index.php?certificados»

Anónimo disse...

Que amontoado de asneiras meu Deus...
1) A Ota é ampliável? -O projecto foi configurado para dar resposta a 40 milhões de movimentos de passageiros por ano, de facto não foi configurado para um trilião porque todos os projectos têm que partir de um pressuposto de bom-senso. Segundo o recenseamento mais recente, a população portuguesa residente no continente não excede dez milhões de habitantes e pelos registos de nascimento( a menos que houvesses uma imigração macissa) é possivel perspectivar quantos portugueses estarão em condições de utilizar o avião dentro de 20 anos ou durante um periodo razoável de vigencia da Ota.Se a Ota permitir 40 milhões de passageiros,tal significará que em média cada português fará 4 voos por ano..seria óptimo que tal acontecesse pq nesse caso teriamos um dos mais elevados niveis de vida do Mundo.Aliás não está previsto que o aeroporto Sá Carneiro e o de Faro encerrem pelo que o numero total de movimentos possivel, no continente, será bem superior.
E quem disse que um aeroporto com duas pistas com aquelas caracteristicas não permite mais movimentos? Não é certamente nos estudos da Naer...vcs deveriam vêr o site do aeroporto de Hong Kong que deveria ser um case study para esta questão..é um aeroporto construido de raiz, com duas pistas paralelas que está configurado para no limite acolher 87 milhões de passageiros/ano e que já no ano passado movimentou mais de 43 milhões.
2) Integração do aeroporto na rede de portos maritimos Lisboa , Setubal Sines....em que rede de portos maritimos se integra o aeroporto de Madrid? Com conhecimento profissional das coisas (fui entre outras coisas Director Comercial do Porto de Lisboa) sei que o que faz os portos (e os aeroportos)são os mercados e sei que o Poceirão bem como todo o Sul de Portugal poucas cargas gera ou consome, a tal ponto que se o terminal XXI de Sines não viesse buscar as cargas a Norte do Tejo( consolidação de contentores no TVT e na Bobadela com posterior encaminhamento ferroviário) já teria encerrado as portas.
Será preciso continuar?
Na realidade a discussão pseudo-técnica sobre o novo areoporto é uma bizantinice que envergonha o nosso país..a questão é essencialmente politica pq existe um lobby que quer garantir centralidade para o Porto, o qual na sua óptica extenderia a sua influencia até Coimbra e à Galiza. Este lobby quer o novo aeroporto de Lisboa em local onde não posssa desempenhar um papel de Hub: é um projecto de divisão de Portugal ao meio,uma espécie de Grande Galiza +Portugalito.Percebe-se pq é que o Belmiro saiu da sombra para falar nesta questão e percebe-se porque é que incrivelmente a Associação Comercial do Porto quer financiar outro estudo de localização do novo aeroporto de.....Lisboa!!!