quarta-feira, 4 de abril de 2007

Respondo neste novo tópico ao comentador "direct current", que escreveu o 3º comentário ao tópico anterior.

Caro "direct current"

A minha formação é de facto em Direito, não sendo advogado. Sou doutorando da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Não tenho formação académica superior em “ciências técnicas”. O conhecimento que daí me vem é por autodidatismo.

Eu disse que eles autorizam um aeroporto sem saber bem para que lado sopra o vento. Mantenho a afirmação. O que o senhor disse é que lá havia uma estação meteorológica. Pois, eu também tenho uma em casa, é é um pouco artesanal: tem um termómetro, um higrómetro e um barómetro. Em breve vou comprar o anemómetro. A estação que lá há não é conforme às normas internacionais. Exactamente por isso a Parsons disse que era necessário lá instalar uma estação meteorológica (conforme às normas internacionais, leia-se. Se assim não fosse qualquer uma servia.)

Naturalmente a sua contra-argumentação não me convenceu. E não é que não tenha gostado, como o senhor referiu. Isto não é uma questão de gostos. Pura e simplesmente eu não concordei. Como continuo a não concordar. E parece que, agora com a reanálise da margem esquerda do Tejo que aí vem, o mesmo erro vai ser cometido. Por isso já escrevi aos governantes. Ponham uma base meteorológica conforme às exigências legais em todos esses sítios, quanto antes! A minha obsessão com a legalidade não me vem da profissão; vem-me de querer viver na ordem, não na bagunça; na segurança, não no medo; no planeamento, não no desenrascanço.
Se os dados de uma futura estação meteorológica confirmarem os dados que já se conhecem hoje, óptimo. Mas hoje as coisas não estão a ser bem feitas.

Concordo com a sua afirmação de que a orientação das pistas se deveu à orografia do terreno, por reconhecer ser verdade. Já conhecia as razões para isso. Ela não se deveu a razões meteorológicas, justamente como eu já tinha afirmado. O que quero salientar, com tudo isto, é que tudo foi aparentemente estudado na Ota com profundidade, menos a meteorologia.
Queria ainda dizer que há pessoas convencidas de que a orientação projectada se deve à meteorologia, e não à orografia. É isto que é preciso desmistificar, sublinhando-se que a meteorologia nada tem que ver com isso, talvez por não ter sido estudada em profundidade. Vale-nos a constatação relativamente segura de que os ventos ali predominantes são no sentido da pista existente na base aérea.
Sei que o impacto nas aeronaves é reduzido, por se tratar de uma rotação de apenas 20º em relação à orientação da pista existente.

Veja-se aqui

http://www.naer-novoaeroporto.pt/portal/page/portal/NAER/Estudos/?CTES=18064&actualmenu=6153&cboui=18064

Relatório Aéroports de Paris, p. 63 e 64.

que os ventos predominantes são de N, e depois de NW. Ora a pista foi rodada para NE.
Eu sei que não é preocupante, eu sei.

Mas falta o nevoeiro, meu caro. E isso pode tramar um aeroporto, como o senhor que é piloto sabe. Não digo tramar em absoluto, mas prejudicá-lo enormemente:

«A percentagem média de dias de nevoeiro é de 8,7%» Mesma fonte, mesma página de há pouco.

Se o aeroporto tiver uma meteorologia tal que só se puderem efectuar aterragens em categoria ILS III a/b/c (condições de visibilidade muito reduzidas) nalguns ou em todos desses dias (são 8,7 % dos dias do ano!!!), corre-se um risco enormíssimo, porque ele pode nunca vir a ser certificado nalgumas destas categorias. E depois, quando se verificarem aquelas condições meteorológias, para onde se mandam aterrar os aviões? Para o Porto, para Faro...

Além do mais, e corrija-me aqui se eu estiver enganado, há ou não há muitas companhias aéreas que não autorizam, nas suas normas operacionais, a aterragem em ILS III c? (Aterragem com visibilidade nula.) E mesmo que autorizem há ou não há muitos comandantes que não as fazem, na ponderação de segurança de que são titulares, mesmo nas outras categorias III a e b?
Já viu o que é borregar (go-around) ali na Portela ou borregar num aeroporto onde há 8,7% dos dias com nevoeiro?
E borregar com um motor inoperacional, o grande argumento esgrimido contra a Portela?
E se um motor falha à descolagem (depois da rotação, naturalmente) e o nevoeiro começa logo 100 pés acima? Os tectos na Portela, quando os há, são muito mais altos, estou correcto?
Diga-me, como piloto, o que pensa disto.
Mas não me diga: tudo isso se faz, e nós nos testes fazemos isso e muito mais. Eu sei. A minha questão é uma questão de procurar minimizar os riscos.

Mesmo que a margem esquerda do Tejo tivesse grandes problemas ambientais, acho que se lá houver uma segurança aeronáutica acrescida em relação à Ota, mais valia fazer lá o aeroporto.
Para isso é preciso importunar o Governo para não deixar morrer ingloriamente todas as hipóteses ainda em aberto.

Quanto ao sítio http://www.maquinistas.org/ julgo que fará melhor em desmontar um por um os erros que alega. Ganhamos todos. É um desafio que lhe faço.

É com muito prazer que continuarei a dialogar consigo e com todos/as.

Saudações aeronáuticas!

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