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Uma ideia diferente: um aeroporto low-cost na região do Oeste
Li no livro “O Erro da Ota” – recentemente publicado pela Editora Tribuna da História – um artigo do Eng. Frederico Brotas de Carvalho.
Na p. 255, o Autor refere a possibilidade da existência de dois aeroportos low-cost (aeroportos especialmente vocacionados para as companhias low-cost), um a Norte de Lisboa, outro a Sul (a exemplo do que sucede na região de Barcelno).
Ora aqui está uma ideia em que ainda não tinha pensado.
E se a Portela se mantivesse, e fosse construída na região do Oeste – súbita mas compreensivelmente interessada no turismo por via aérea – um aeroporto vocacionado para as low-cost?
Uma solução deste género traria um sem-número de benefícios quer a Lisboa (porque assim a Portela não teria de ser extinta) quer à região do Oeste, sem as inconvenientes desvantagens que são apontadas actualmente à Ota.
Isto provaria igualmente – para descanso de todos os adeptos das cabalas – que pessoas como eu não estão ao serviço de nenhum interesse particular, mas ao serviço dos interesses soberanos de Portugal.
Uma solução como esta permitiria a manutenção ad eternum da Portela, que é um aeroporto tão indispensável a Lisboa como o é o seu porto marítimo: Lisboa precisa de ambos como de pão para a boca. Tanto por causa do turismo, quanto por causa dos postos de trabalho que estão criados e que não se deveriam deslocalizar sem mais, penso eu.
Por outro lado, evitar-se-ia o erro gigantesco que creio firmemente que a Ota é.
Se a região do Oeste tem legitimamente aspirações a ter um aeroporto – como tem sido dada notícia –, não vejo por que razão não se há-de colmatar essa ambição/necessidade com um aeroporto low-cost.
Que essa necessidade seja preenchida com um aeroporto que implique a extinção da Portela, isso é que não!
Bem estranho seria que, em homenagem às aspirações dessa região (ou às aspirações fosse do que fosse), tivéssemos que retirar à capital do País, Lisboa, o seu magnífico e utilíssimo aeroporto, para construirmos um a 45 Km de distância!
E não vejo razões para que não se construa um aeroporto low-cost no Oeste: procura há, segundo os autarcas da região, que são pessoas sérias de que não duvidamos; dinheiro também: se o grande aeroporto na Ota seria quase todo construído à conta de dinheiros privados, muito melhor se conjecturará que venha a ser o projecto financeiro de um – por comparação – simples aeroporto low-cost...
Assim, creio, é possível contentar gregos e troianos.
O único requisito a satisfazer seria a compatibilidade operacional dos dois aeroportos.
Julgo que isso não só não é impossível como até não será difícil.
Posto é que o aeroporto low-cost não venha a ser na Ota! Infelizmente, a Ota foi desde o início uma péssima escolha. Se eu acreditasse em teorias da conspiração diria que em 1981-2 teria havido uma alta patente governamental que teria expressamente instruído alguém para incluir a Ota numa posição favorável. Aos poucos, o discurso sobre a Ota acentuar-se-ia, até que em 1999 surgiriam uns relatórios preliminares – preliminares, daqueles que a NAER me disse pessoalmente, em “mail” a mim enviado, que não publica no seu site... – depois criticados por uma tal CAIA (Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental) a que ninguém, excepto uns bravos do pelotão intelectual que sobrevive a custo em Portugal, ligou.
Dizia eu: a Ota é uma péssima escolha, desde logo em termos estritamente operacionais. Encontrando-se a Ota, logo por coincidência (será?), no enfiamento final/inicial das pistas 03/21 da Portela, respectivamente, a cerca de 22 milhas em linha recta, a Ota e a Portela dificilmente poderiam coexistir. (Enfim, repare-se que coexistem! Lembro que a Ota é uma base militar activa. Mas o tráfego militar que lá se gera, pela sua natureza e fraca densidade, articula-se razoavelmente com o tráfego da Portela. Não seria, penso, possível, fazê-lo com tráfego comercial.)
Quase pareceria que a Ota foi escolhida para liquidar a Portela, por causa daquele enfiamento das pistas de uma nas pistas da outra!... Ah, se nós acreditássemos em teorias da conspiração, bastaria pegar no facto de 1969 as consultoras recomendaram o mínimo de 4500 ha para um novo aeroporto, quando hoje a Ota tem 1800... Mas não perderemos tempo com isso.
Esse aeroporto para companhias low-cost poderia ser localizado numa área compreendida entre o polígono cujos vértices são Sintra, Vila Franca de Xira, Santarém, Caldas da Rainha, Atlântico, assegurada que esteja, em relação à Portela, a compatibilidade operacional.
Naturalmente alguns gostariam de puxar um tal aeroporto ainda mais para Norte. Poder-se-ia então pensar em abrir a Base Aérea de Monte Real à Aviação Civil. Não é impossível, pois não? A Defesa certamente trabalharia para encontrar uma solução que a todos satisfizesse.
Chegou-se a falar nesta hipótese há poucos anos, a propósito, creio, do “turismo religioso” que procura Fátima. Depois a questão caiu no esquecimento.
Por que razão estas opções nunca foram estudadas pelo Ministério das Obras Públicas?
São questões que ficam...
E, se o problema é a margem Sul não ter aeroporto, faça-se outro aeroporto também low-cost na Margem Sul. (Não, não estou a delirar. Estou a pensar em ajudar o leitor a fazer comparações, e a chegar, pela sua própria cabeça, à melhor solução para Portugal.)
Um aeroporto destes custa 300 milhões de euros na pior das hipóteses. Com derrapagens, dou-lhe 500.
Há no entanto quem diga que pode custar apenas 150 milhões de euros. (Cf. Frederico Brotas de Carvalho, p. 255. “O Erro da Ota”.)
Podereis pensar: que disparate, mais dois aeroportos!
Repare-se que dois aeroportos low-cost, do género do que está a ser construído em Beja, ficam por 1000 milhões de euros, na mais pessimista das hipóteses: UM 1/5 DO QUE CUSTA A OTA!!!
(Se dois forem demais, então faça-se só um! Se todos os problemas fossem esses...)
Só é preciso que todos os aeroportos sejam compatíveis.
Para isso basta que os dois novos aeroportos tenham a orientação 03-21 da Portela, ou pouco diferente, para haver separação suficiente entre aeronaves. (Veja em baixo o que se passa em Paris e Londres. Verifique que todos os aeroportos têm pistas com orientações mais ou menos paralelas, sem se prejudicarem.)
(Quanto aos corredores aéreos, esses, podem ser trabalhados pela Administração, em conjunto com a Defesa Nacional. Eu, que sou um acérrimo opositor da Ota, nunca dei rigorosamente nenhuma importância ao estudo da NAV que apontava incompatibilidades da Ota com a área especial de Monte Real, que é onde estão sedeadas, entre outras aeronaves, os nosso dois F-16 em estado de alerta 24 h por dia. É que essas incompatibilidades resolvem-se facilmente. Todos os nossos problemas fossem esses, mais uma vez...)
E essa orientação de pistas corresponde aos ventos predominantes, perguntam-me?
Bem, as aeronaves utilizadas pelas companhias, actualmente, têm uma enorme capacidade de fazer face aos ventos cruzados, dentro, naturalmente, das indicações do fabricante.
Não me parece que, quer na margem Sul, quer na Norte, os ventos predominantes não sejam do quadrante Norte, às vezes, é verdade, com incidência também da orientação nor-noroeste, para o que a orientação 03-21 não seria a mais adequada, é verdade, à partida. Mas não me parece que esses ventos cruzados tenham especial intensidade (creio que muito raramente excederiam 10 nós), que é, de resto, o problema dos ventos cruzados.
Portanto, permitir-se-ia a existência de 3 aeroportos (Portela, low-cost Norte, low-cost Sul) mais baratos do que a Ota, que é só um!...
E com uma vida – antes de saturação – para lá de um século... basta ver que a Portela poderá chegar aos 20 milhões, e que cada um destes aeroportos poderá atingir os 30 milhões, como acontece em Gatwick, UK. Isto dá 80 milhões de passageiros, no total. Parece-me que é bem melhor do que a solução Ota, que só poderá chegar aos 40 milhões, apenas, e que exigirá depois outro aeroporto. (Questão a que os seus defensores nunca responderam.)
Mesmo que não sejam construídos os dois aeroportos low-cost, mas apenas um – o do Oeste, por ex. – teremos uma situação melhor que a da Ota! Por muito menos dinheiro!
É comparar e chegar a conclusões.
Só não me digam, como teve a infelicidade de ser dito pelo Ministro Mário Lino, que o que é afinal melhor e mais barato é que é faraónico!... Andamos agora de pernas para o ar, Sr. Ministro? Com que desfaçatez se dizem as coisas ao contrário!...
Quanto a ser inconveniente gerir dois aeroportos – argumento muito badalado pelos defensores da solução “Ota-apenas-e-daqui-a-20-anos-quando-ele-esgotar-os-nossos-filhos-que-resolvam-o-problema-porque-nós-já-batemos-as-botas” gostava de perguntar como é que em certos países estrangeiros eles resolvem o problema.
Londres tem 5 aeroportos, Paris 3, Madrid terá dentro de alguns anos 2. Junto em baixo fotos-satélite do que descrevo, com indicação da orientação das pistas e das distâncias entre os aeroportos.
Teremos de condenar a Área Metropolitana de Lisboa a ter 1 só aeroporto, para sempre? É que corremos esse risco, se não acautelarmos já a reserva de terrenos para a construção de um aeroporto no futuro próximo.
O ideal, até, em termos económicos, é ter, numa região onde haja movimento para tal, dois aeroportos, geridos por duas empresas diferentes, de modo a haver competição entre ambas! Isto, que é tão elementar, tem sido esquecido...
Continua a ser minha convicção que a melhor solução é Portela + Grande Aeroporto na Margem Sul, podendo entretanto abrir-se o Montijo às low-cost, nos períodos de saturação da Portela.
A questão tem ainda de ser estudada. Não foi bem estudada porque sucessivos governos, em vez de ordenarem estudos completos após os quais se faria a decisão, converteram-se a meio do processo à fé na Ota, e a partir daí tudo ficou inquinado. Não se estudou a “solução zero”, não se estudou por exemplo a solução de um aeroporto low-cost no Oeste ou na Margem Sul (ou em ambos os locais, ou em Monte Real), não se estudou, enfim, grande coisa.
Mas, dizia eu, apesar de a melhor solução ser, para mim, a que acabei de apontar, este texto terá, espero, o mérito de fazer despertar para a ponderação da solução de um aeroporto low-cost no Oeste, solução bastante melhor que a Ota, a todos os níveis:
- não deixa de ter em conta aquela região, a nível da política aeroportuária;
- permite a continuidade da Portela, observada que seja a compatibilidade operacional com esta;
- poupa 4.500 milhões de euros, pelo menos.
E o Grande Aeroporto?
Não sei.
Para mim era na Margem Sul: o único local, identificado desde 1969, como a única área na Região Metropolitana de Lisboa para a construção de um grande aeroporto internacional, por ser o único com ESPAÇO. Já toda a gente sabe isto, e quem não sabe é porque tem grande amizade à ignorância.
A Ota nunca seria um Grande Aeroporto.
Limitada – para sempre – a duas pistas, saturável ao fim de 20-30 anos (eu até sou generoso: o relatório da NAV dá-lhe apenas 13...), aquilo não é um Grande Aeroporto. É uma desgraça de obra pública. É um exemplo de como as coisas não devem ser feitas. É um exemplo da intromissão dos “políticos” nas decisões técnicas, é o drama, a tragédia, o horror da “coisa pública” em Portugal...
Da próxima focarei outra tragédia que todos temos de evitar: a privatização da ANA.
Obrigado por toda a atenção.
Gabriel Órfão Gonçalves
Jurista
A seguir mostramos imagens retiradas do google com os 5 aeroportos de Londres e os 3 aeroportos de Paris.
Entre parenteses está a orientação das pistas. A orientação das pistas funciona da seguinte forma:
imagine um círculo dividido em 360º graus. Uma pista com a orientação sul-norte tem o nome 36 (de 360º). Uma com a orientação contrária tem a indicação 18 (de 180º). Por isso fala-se em pistas 18-36. Uma que tenha o sentido este-oeste será a 09-27, e por aí fora...
A nossa 03-21 da Portela está orientada sensivelmente a nor-nordeste/sul-sudoeste.
De tempos a tempos o nome muda, porque o pólo magnético se move. A nossa 17-35 já se chamou 18-36, há uns anos! :)
Note que a distância entre Heathrow e Gatwick é de 40 Km.
Os outros aeroportos têm uma distância uns dos outros sempre à volta dos 40-50 Km.
Em Londres há um aeroporto mesmo dentro da cidade: é o London City.
Se nunca lá aterrou é porque padece da mesma doença que eu:
falta de dinheiro para experimentar aventuras memoráveis!
5 aeroportos!
Como é que eles conseguem gerir o tráfego???
Note que a distância entre Orly e Charles de Gaulle é de 34 Km,
e há ainda outro aeroporto - Le Bourget - utilizado pela aviação executiva,
e pela aviação geral e helicópteros. (Existe ainda o heliporto central de Paris,
não representado na imagem.)
3 aeroportos!
Como é que eles conseguem gerir o tráfego???
Boas reflexões
;)
2 comentários:
Artigo muito interessante.
Há no entanto um problema importante (que eu referi no meu artigo http://cabalas.blogspot.com/2007/06/novo-aeroporto-de-lisboa-onde.html).
A haver mais de um aeroporto estes deviam estar ligados por linhas de monorail (ou metro) próprias de forma a permitir um fácil transbordo entre voos.
Aprendi muito
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