Caro compatriota, quero dizer-lhe que nenhuma cabeça pensa melhor do que a sua. Há talvez pessoas e instituições que o querem convencer do contrário, mas eu insisto em que deve confiar na sua cabeça. Pensar custa um pouco mas em geral é benéfico. Digo eu...
A inverdade refere-se ao rumor de que o Novo Aeroporto tem de ser construído na Margem Norte do Rio Tejo porque reside aí a maioria dos utilizadores da Portela.
Que eu saiba, a maioria dos utilizadores de qualquer aeroporto internacional corresponde a estrangeiros. Nem imagino como poderia ser diferente. Nova Iorque, Londres, Paris, Hong-Kong, Tóquio, são frequentados na maioria por estrangeiros.
Por isso, não faz sentido perguntar onde habita a maioria dos utilizadores de um aeroporto. O que tem de ser perguntado é para onde vão eles, depois de aterrar.
Estarei enganado se disser que a esmagadora maioria dos passageiros – quer nacionais, quer estrangeiros – que desce na Portela se destina a Lisboa e seus concelhos limítrofes?
Lisboa é hoje uma das 10 cidades mais procuradas em todo o Mundo para congressos e conferências, em áreas tão variadas como a Medicina, Economia, Farmácia.
Por que razão o argumento – velho de 65 anos – da excelente proximidade do aeroporto da Portela teria perdido a sua validade? (Sobre a questão da segurança, procurar neste blogue por este específico tema, dois “posts” abaixo. Quanto à poluição, basta adaptar o argumento da segurança: o aeroporto vai deixar um centro urbano – Lisboa – para ir para outro centro urbano??)
Vamos desperdiçar o que a “marca” Lisboa (como agora é moda dizer) acumulou até hoje com tanto êxito?
Já os Fenícios e os Cartagineses conheciam a importância de um entreposto comercial afamado dotado de bons acessos.
Seremos mais atrasados do que estes povos?
Por isso considero o encerramento da Portela - em qualquer hipótese futura - um crime de lesa-Pátria.
Se o problema é a Margem Norte não ter aeroporto... Bem, já lá está um! Deixem-no estar! Chama-se Portela. Não há necessidade de o fechar para construir outro.
NÃO à política da terra queimada!
E se a Portela está em ruptura iminente... não esperem 10 anos. Por que não construir já uma pista com a orientação 03-21, portanto paralela à da Portela, no Montijo? Assim não é preciso fechar a Portela, que tão bem ali está. (É que a Portela teria de ser fechada, por incompatibilidade operacional com a Ota: as pistas da Portela ficariam no enfiamento das da Ota. A solução Portela + Montijo - pistas paralelas separadas por mais de 9 Km! - não tem esse problema.)
Portela mais Montijo (enquanto o eventual grande aeroporto e a sua cidade aeroportuária vem e não vem.)
(A primeira figura documenta a possibilidade de se construir uma pista com orientação 03-21 com 3000 m, no Montijo, ou seja, uma pista com orientação paralela à pista mais utilizada da Portela (03-21 são orientações magnéticas, em que 03 quer dizer 030º, ou seja, 30 graus desviado em relação ao Norte magnético, no sentido dos ponteiros do relógio). A segunda figura demonstra que as pistas distam mais de 9000 m entre si! Uma pista para empresas de baixo custo apenas, que só precisam de uma pista e de um terminal rudimentar. Só tráfego para espaço Schengen, naturalmente. Imagens Google Earth, figuras minhas.)
(Agradeço a todos quantos têm dialogado comigo e prestado as mais relevantes informações.
Veja em especial estes PDF:
http://www.maquinistas.org/pdfs_ruirodrigues/lowcostaeroporto.pdf - uma pista e um barracão, num aeroporto gerido por uma Câmara de Comércio. Outra loiça... Veja o que se faz lá fora... bem feito.)
À Redacção do Portugal Diário
Escrevo por causa do seguinte título do Portugal Diário, disponível aqui:
http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?div_id=291&id=805155
"Ota: maioria dos passageiros a norte do Tejo"
Não sei quem assinou este artigo, e a razão porque me dirijo à Sra. Jornalista xxxxxxxxxx é apenas porque tenho visto alguns artigos sobre a Ota da sua autoria, razão por que estará em condições, talvez, de melhor tratar/encaminhar o assunto.
E o assunto é que não consigo ler nada no texto que justifique o título. Aliás, no texto pode-se ler claramente que a maioria dos utilizadores da Portela não é residente na área metropolitana de Lisboa.
À frase
«A Área Metropolitana de Lisboa gere três quartos dos passageiros e, destes, 88 por cento residem na área metropolitana norte. O centro de gravidade daqueles que utilizam [a Portela] é a Norte do Tejo não é a Sul», afirmou António Guilhermino Rodrigues, presidente da ANA.
falta um elemento: "a área metropolitana de Lisboa gere 3/4 dos passageiros"... do total de quê?
Do aeroporto? Não pode ser. O desmentido viria logo a seguir no texto, 3 parágrafos abaixo: só 40% dos utilizadores da Portela são da AML, e não 3/4, portanto.
Do total de passageiros de aeroportos em Portugal? Também não pode ser. A Portela movimenta menos que 3/4 do movimento nacional.
Será de quê? Não consigo perceber.
Talvez seja dos passageiros portugueses. (Seria a única maneira de interpretar coerentemente o texto. Portanto, de 40% (fatia dos passageiros portugueses) do total absoluto de passageiros que utilizam a Portela. Pelo que então, do total de passageiros a utilizar a Portela, 30% seriam da AML (30% é 3/4 de 40%). Desses 30%, 88% seriam, segundo o texto, residentes da margem Norte, ou seja, 30*0.88= 26,4% do total absoluto de passageiros.
Ou seja, a notícia diz que o aeroporto vai ser construído na Ota porque 26,4% dos passageiros que utilizam a Portela vivem na margem norte do Tejo, informação absolutamente objectiva - porque matemática - que conviria então escrever. Esses 26,4% seriam então o "centro de gravidade" de que falou António Guilhermino Rodrigues, presidente da ANA, à volta do qual se tem de construir o aeroporto.)
(Informo ainda que, tirando os aeroportos de áreas isoladas - que servem fundamentalmente as suas populações, como os aeroportos das ilhas mais pequenas e sem turismo dos Açores -, é impossível que a maioria dos utilizadores de um aeroporto sejam residentes próximos. A maioria dos seus utilizadores são sempre residentes estrangeiros. A maior parte dos utilizadores da Portela são estrangeiros, o mesmo se passando com os aeroportos de Nova Iorque, Hong-Kong, Londres, Paris, Tóquio...
É que os aeroportos são muito mais utilizados pelos estrangeiros do que pelos nacionais, e era difícil imaginar que não fosse assim.)
Fica o meu pedido de esclarecimento da notícia.
Grato por toda a atenção que possa dispensar a este assunto,
Gabriel Órfão Gonçalves
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