sábado, 15 de dezembro de 2007

Postal ilustrado para José Reis


A Ota e a implantação das duas pistas. Um aeroporto para todo o séc... bem, ainda ninguém pode garantir que dê para um século. Quando este saturar logo se faz outro. Naquela zona deserta ali da Portela ou lá ao pé dos beduínos, na margem sul. Ou então faz-se outro aeroporto no Porto. Ou vamos a Badajoz.

Meu caro compatriota:

Descobri este seu texto neste sítio:

http://www.ces.uc.pt/opiniao/jr/002.php

Se não se importa, vou criticá-lo, escrevendo no meio do texto da sua autoria os comentários que me parecem pertinentes. Ainda hoje espero que neste país alguém critique de alto a baixo o que eu escrevo sobre a questão aeroportuária (parece-me que já ultrapassei as 50 mil palavras), porque às vezes convenço-me que o que digo ou tem sempre leitores que concordam comigo, ou então quem discorda de mim tem receio/preguiça de me contradizer/está pouco interessado no debate de ideias. Ou então acham que o que eu digo nem merece críticas, de tão maus que são os meus textos. Possibilidades não faltam, pois :)

Os meus comentários a azul:

«Um aeroporto não é um porta-aviões
José Reis
(publicado no Jornal de Negócios em 10 de Dezembro de 2007)
Como se sabe, a decisão sobre a localização do novo aeroporto internacional estava tomada desde 1999 (como jurista tenho a dizer que considero essa decisão - que é, em termos jurídicos, um “procedimento administrativo” - ilegal, por se fundamentar em EPIAs (Estudos Preliminares de Impacto Ambiental) considerados “insuficientes”, pela CAIA (Comissão de Avaliação de Impacto Ambiental). Mas eu não sou administrativista e não percebo nada disto. O que posso garantir é que se um dia o aeroporto começar a ser construído da Ota eu vou tentar embargá-lo com uma mera providência cautelar. Depois, claro, fujo para longe para me proteger de ter a cabeça a prémio. Mas valerá a pena correr todos esses riscos, nem que seja para rir, lá longe, do facto de um povo ver o seu “Grande Aeroporto” embargado por um desempregado como eu... E olhem que quando um tribunal manda embargar uma obra, embargada está. Até ver, Portugal é um país de leis, e não de cowboys. Podem criticar o “Zé”, mas lá que a providência dele embargou um túnel, lá isso embargou!). Contudo, um poderoso movimento de influências (Eu ponho a boca no trombone por isso: está a referir-se à Lusoponte, não é? Eu estou a fazer um parecer sobre isso. No fim do parecer, o eng. Ferreira do Amaral prostrar-se-á aos pés de Portugal pedindo clemência) teve o êxito necessário para reabrir o processo. Foi há pouco mais de seis meses que o "pico" das movimentações se atingiu.

Na altura, a alternativa era Rio Frio ou Poceirão e o caldo de argumentos incluía a própria suposição (ilustrada por sondagens esmagadoras, reveladoras de uma profunda sensibilidade do cidadão médio para a questão da navegação aérea) de que Portugal não precisava nada de um novo aeroporto.

Meio ano passado, esta questão saiu subitamente da agenda e alguns dos que proclamavam a não necessidade têm agora como argumento preferido as imensas possibilidades de Alcochete. (Pessoalmente acho que não há grande pressa em construir um aeroporto em Alcochete. O que é preciso é RESERVAR A ZONA DO FUTURO AEROPORTO para evitar especulações. Comecei a pensar assim depois do artigo de Rui Rodrigues que se pode encontrar neste blogue, sobre os slots da Portela. Quem quiser ir ver as imensas filas de aviões na Portela - estou a ser irónico - vá até ao extremo oeste da R. Salgueiro Maia em Lisboa (editado: por acaso é já em Loures. Saída de emergência nº 5 do aeroporto, junto à rede. Junto a Figo Maduro, portanto). Não me responsabilizo por ir lá apanhar frio sem conseguir ver qualquer avião. Há uns dias levei lá os meus pais, que, depois de gelarem junto à rede do aeroporto durante 15 minutos, começaram a perguntar-me: “Então os aviões? Deves ter-te enganado no sítio!”, ao que respondi “Não me ia enganar numa coisa destas. Vamos esperar mais 10 minutos a ver se aparece algum avião, ok?” Eram 9 da noite de um domingo. Apareceram 4 jeitosas aeronaves.)
Alcochete asfixiou o debate e, por isso, importa regressar a uma agenda não-redutora, isto é, a uma agenda que tome em conta que um aeroporto é uma infra-estrutura destinada a produzir serviço: serviço às pessoas, às actividades, à vida colectiva, à conectividade do país em termos internacionais.

Este argumento, decisivo para quem dê prioridade a uma perspectiva de planeamento e ordenamento do país, tem tradução fácil numa pergunta igualmente fácil. Onde estão as pessoas que mais usam o transporte aéreo? A resposta só pode ser uma, estão nos meios urbanos, com Lisboa à cabeça, (Não, meu caro. Eu não sei quantas vezes já chamei a atenção para isto. Temo que alguns dos cabelos brancos que me comecem a aparecer daqui a uns anos tenham que ver com essa questão. Ain! (expressão de dor aguda na cabeça) Vamos ver se eu consigo: num aeroporto internacional, a maioria de utilizadores deste aeroporto tem nacionalidade ES-TRAN-GEI-RA. Isto sempre assim foi e sempre há-de ser. Acontece nos portos e nos aeroportos IN-TER-NA-CIO-NAIS. Acontece na Portela, acontece em Chep Lak Kok, acontece em Frankfurt, acontece no La Guardia, acontece no Charlles de Gaulle, ... Já nos anos 60 era sim: a maior parte dos utilizadores da Portela eram nórdicas lourinhas, ingleses pálidos, americanos altos ou russos em trânsito. A maior parte tinha passaporte ES-TRAN-GEI-RO. Por isso, não viviam nem a norte nem a sul do Tejo. Viviam fora de Portugal, naquele outro País ENORME que se chama “Estrangeiro”. Estou farto, farto, farto, farto, farto, farto, dessa inverdade que é dizerem que a maior parte dos utilizadores da Portela vive a Norte do Tejo. O que os senhores querem dizer é: “dos utilizadores portugueses - uma minoria de utilizadores do aeroporto da Portela - a maior parte são residentes a Norte do Tejo”. Isto, sim, é verdade. Neste blogue eu já escrevi isso vezes sem conta, e desafio a que me contradigam. Por isso a pergunta que temos de fazer é: quem desce no nosso aeroporto quer ir para aonde? 60% vão dizer-lhe "Concelho de Lisboa") e esses meios estão na margem Norte do Tejo, desenvolvendo-se no litoral até Coimbra (aqui há uns tempos era até Vigo, tem piada! Era a “grande cidade atlântica que se estendia de Lisboa [ou seria de Sines?] até Vigo”! Então vamos deixar Santiago de Compostela fora da corrida ao aeroporto da Ota? Não acredito!!!), onde também estão "embutidas" as redes mais densas e acessíveis de mobilidade (auto-estradas, estradas e vias férreas). Acresce a isto que a transposição do Tejo para Sul se faz por acessos todos eles concessionados a uma entidade privada, com portagem paga. (Mas por que é que temos de transpor o Tejo para Sul, senhores? Então não conheceis o aeroporto da Portela? Pois vos direi, Vossas Mercês, que fica situado a sul de Coimbra, na cidade de Lisboa, que o nosso querido D. Afonso Henriques conquistou aos mouros.) Os custos para os utentes não são difíceis de calcular.

Há alguma boa razão para que este argumento elementar tenha sido obscurecido? Não sei.
Parece, no entanto, claro que a noção de que um aeroporto deve ser sobretudo avaliado como obra de engenharia conseguiu ganhar dianteira. (Eu vou explicar-lhe por que conseguiu: porque o aeroporto da Ota, do ponto de vista da engenharia, era tão mau, tão mau, mas tão mau, que houve 114 Professores do Instituto Superior Técnico que endereçaram um abaixo-assinado ao País pedindo um aeroporto para todo o séc. XXI. Quando 114 Professores do Técnico fazem isto, estamos conversados sobre a questão de saber por que a engenharia era uma questão tão importante: porque só podia ter 2 pistas. E isto, por incrível que pareça, é uma questão de engenharia aeroportuária! Havia de ser de quê? Já viram? Agora saber quantas pistas pode ter um aeroporto era uma questão... ahh, psico-social! Não, política! Ahh... Já sei, moral!) Quer dizer, se parece assumido que uma localização não é uma decisão de engenharia civil (É, é! Quando a localização é a que está na fotografia, a localização É UMA QUESTÃO DE ENGENHARIA CIVIL! Então havia de ser de quê?), já não parece tão claro que os cidadãos e as outras disciplinas que contribuem para a fundamentação técnica tenham um direito de cidadania idêntico à da engenharia. Ora, acontece que os números iluminados que ilustram as convicções de alguns engenheiros (a engenharia tornou-se numa alquimia de números?) têm de ser sujeitos ao escrutínio público. (Quando o autor deste texto vier a público dizer “quantos milhões de passageiros a Ota tem como limite absoluto”, aí escrutinaremos a bom escrutinar!) Os custos directos, desde logo. E, sobre estes, é preciso afirmar que o que tem vindo a ser dito sobre Alcochete não pode tranquilizar os cidadãos e muito menos o poder político. Sabe-se a que cota teriam de ser construídas as pistas em Alcochete, num sítio em que o nível freático está tão perto do solo? Não. (Na Ota o nível freático não está perto do solo, Na Ota o nível freático... é o próprio solo! Aliás, nem há solo, há charco! É o chamado solo charco-freático, nome científico para, para..., paixões assolapadas por querer encanar ribeiras de enfiada! Basta olhar para a fotografia e ver a Ota num Inverno em que choveu um bocadinho...) Sabe-se que trabalhos de deslocação de terra e de compactação têm de ser feitos? Não. (Quando o termo de comparação é a Ota, julgo que qualquer terreno é mais fácil de deslocar e compactar. A não ser, talvez, a Serra da Estrela...) Sabe-se quanto custa a descontaminação de uma zona de uso militar para poder ter uso civil? Não. (Vá lá, há uma que V. Exa. acerta!) Os custos directos estão, pois, longe de serem conhecidos. (O que vale é que temos a Portela a funcionar. Quase às moscas a certas horas do dia, mas a funcionar! A Portela é o que nos salva! Quando isto der o berro, apanhamos os aviões e piramo-nos. Regressamos depois com + 10 milhões de emigrantes e seus luso-descendentes para pôr ordem nisto. Se ainda houver Portugal!)

E os custos indirectos? Já se sabe o que resultaria dessa coisa impensável de um comboio de alta velocidade se fazer em função de um aeroporto, desviando-o do seu serviço principal que é unir rapidamente as duas metrópoles do país e a mancha urbana do litoral. (De acordo com os Acordos da Figueira da Foz, Portugal vinculou-se perante Espanha a levar o TGV de Lisboa até Elvas, como eixo-prioritário. Quanto à ligação TGV entre Porto e Lisboa, quando disserem quanto um bilhete vai custar (quase o dobro) e quanto tempo vai encurtar ao actual Alfa (uns 30 minutos), aí veremos nas televisões alguns directos de “distúrbios um pouco por todo o país, devido ao preço do comboio que liga as duas capitais”.) E conhecem-se os custos indirectos de "recentrar" o país, afastando o aeroporto de quem o usa e dos meios que o complementam? Seguramente que não. (A Portela está ali de cal e pedra para não deixar o centro do país fugir. Com a Portela ali e o Mondego em Coimbra acolá, o país nem se descentra nem foge para lado nenhum! Então querem dois pisa papéis mais pesados para não deixar fugir um país? Não há!)

É isto que nos faz regressar ao essencial. E o essencial é, aqui, que a decisão de localização continua a ser, felizmente, um assunto de Estado: um assunto de estratégia pública e de estratégia de longo prazo. Mal fora, que não fosse. Mal fora que tivéssemos que nos sujeitar à tradicional miopia privada, onde o curto prazo e o lucro próprio (ou mesmo o sobre-lucro!) prevalecem. (Pois, aqueles telenos da Poltela, quem me dela lá constluil lá qualquel coisa! Estou a imital a plonúncia oliental por melo acaso. Melo. Acaso. Gosto muito da Ota. Ota sel o glande plojecto que mata Poltela. Eu estal muito contente! ╠ ) "Ou moun tintoi. Lai si tai loi!". Não qelel aviões na Poltela. Poltela feia com aviões. Poltela bonita com apaltamentos. Apaltamento bonita na Poltela. Quel complal?)

É o serviço que presta e a forma como se entrelaça com as infra-estruturas de acesso já existentes num país concreto que diferencia um aeroporto de um porta-aviões. (Embora alguns porta-aviões quase conseguissem navegar nos terrenos de alguns quase aeroportos.) Se assim não fosse podíamos continuar a jogar à batalha naval...
(Este último parágrafo a negro parece escrito por mim! Mas não, foi o próprio Autor - José Reis - que o escreveu. Parece que está a gozar com a Ota, mas não, está a defendê-la! Que falta de jeito, vir falar em porta-aviões a propósito da Ota! Que falta de jeito mesmo! Foge-lhe a boca para a verdade... Aposto que depois da fotografia que pus neste post os defensores da Ota vão dizer: "Não deixem o Prof. José Reis abrir a boca! É pior a emenda dele que o soneto do Cravinho! Ainda se põe a falar de porta-aviões e aí os Bravos do Pelotãos mostram ao País as fotos da Ota. Tudo menos isso! Não deixem o José Reis ser vítima dos Bravos do Pelotão e de quem mostra ao País as fotos... do País!"
Mas já agora que ele fala em batalhas navais e em porta-aviões e em aeroportos:
Eu espero continuar a jogar à batalha naval! Olhe, dia 6 de Janeiro, na Ota. Eu levo o barco a motor e as galochas. Combinados?)

GOG: Sou um miúdo autêntico... (diferente de ser um autêntico miúdo, notai)

4 comentários:

Diogo disse...

«nos anos 60 era assim: a maior parte dos utilizadores da Portela eram nórdicas lourinhas»

Bons tempos meu caro, bons tempos. Embora eu só tenha começado a desfrutar dessas vantagens da Portela (uma dava pelo nome de Solveig) nos finais dos anos 80.


Bom post. Também tenho tentado mostrar às pessoas o facto da Portela estar às moscas. No meu emprego, imprimi o texto de Rui Rodrigues sobre os slots da Portela, tirei fotocópias e distribuí-os.

Diogo disse...

«nos anos 60 era assim: a maior parte dos utilizadores da Portela eram nórdicas lourinhas»

Bons tempos meu caro, bons tempos. Embora eu só tenha começado a desfrutar dessas vantagens da Portela (uma dava pelo nome de Solveig) nos finais dos anos 80.


Bom post. Também tenho tentado mostrar às pessoas o facto da Portela estar às moscas. No meu emprego, imprimi o texto de Rui Rodrigues sobre os slots da Portela, tirei fotocópias e distribuí-os.

Gabriel Órfão Gonçalves disse...

Espere aí, espere aí!
Anos 80, portanto, passaram 20 e tal anos...
Essa Solveig não terá um filha, não? Ou várias?...
Ai as nórdicas!
É mais uma razão para não deixarmos fugir a Portela. E uma razão das mais importantes!
Agora já percebi o que eles querem levar lá para a Ota e que tanto põe os portugueses em polvorosa...
:)

Anónimo disse...

:)