Por Mendo Castro Henriques, Professor da Universidade Católica Portuguesa
Quando em Janeiro de 2007, o primeiro-ministro uniu a privatização da ANA e a construção na Ota do Novo Aeroporto de Lisboa estava longe de pensar a tempestade que iria desencadear neste caso. Não contou este governo PS, como não contaram os dois governos PSD anteriores, que não basta ter maiorias, mesmo absolutas: é preciso ter razão e defender o interesse nacional.
Começaram então a soar os sinais de alarme, embora para alguns grupos e governantes mais parecessem trompas de caça. A mensagem é clara. O país não aceita o erro da Ota. Os especialistas recusam-no e a população também. Interesses locais e corporativos há muitos, mas para os ponderar é que existe Governo.
Após a saída do livro O ERRO da OTA a 14 de Maio, Cavaco Silva pediu no discurso da Covilhã a 19 de Maio estudos e pareces sobre a localização do NAL – um apelo repetido em Guimarães, uma semana depois. E desde então, o tom subiu e acalorou, sobretudo para o ministro Mário Lino que passará à história como o homem do “deserto na margem sul”.
Nas Comissões do Parlamento foram agendados debates. Jaime Gama pediu toda a documentação sobre o NAL ao MOPTC. Em interpelação ao primeiro-ministro na Assembleia da República, em 31 de Maio, Paulo Portas apresentou um brilhante libelo contra a Ota e Marques Mendes um libelo apenas.
Com o tempo das cerejas, Junho está a trazer muitas novidades.
A 3 de Junho, a Quercus e a Alambi, de Francisco Ferreira e José Carlos Morais defenderam nova reavaliação da localização do Aeroporto de Lisboa, com a opção de manter a Portela.
No Prós e Contras do dia 5, quando apesar do profissionalismo de Fátima Campos Ferreira, predominava o pântano das opiniões, o comandante Lima Basto soube virar a plateia contra a Ota No dia 6, o deputado do PSD por Setúbal, Luís Rodrigues, rompendo com a linha sinuosa do seu partido nestas matérias, veio afirmar que, sem a aprovação final do Presidente, não haveria privatização da ANA.
No dia 7 soube-se do apelo iniciado pelo Eng.º Mário Lopes, de mais de 100 engenheiros ao Presidente da República, um eco das declarações fortes do bastonário Fernando Santo de que é preciso ouvir os técnicos.
A 8, Augusto Mateus, antigo ministro de Guterres, e coordenador dos estudos sobre o ordenamento do aeroporto da OTA, vem afirmar que Alcochete seria uma solução mais flexível e mais rápida.
Entretanto, na pré-campanha das intercalares de Lisboa, todos os candidatos independentes ou de partidos fora do governo declararam que pretendem manter a Portela. António Costa ficou isolado. Além de um referendo à Ota, as eleições mostrarão que não é possível usar de má fé para com os lisboetas, dizendo que é problema nacional o que também é local. Os lisboetas não aceitam fazer da cidade um doente à força, roubando-lhe o turismo com a saída do aeroporto e implantando-lhe um “pulmão artificial”.
O impressionante número de entidades e personalidades que cada dia engrossam os “bravos do pelotão” contra o erro da Ota não é um acaso. É uma prova que o país está vivo e a democracia de boa saúde. A classe política é que tem de aprender rapidamente umas quantas lições. A primeira é que não convém ser cínico em política. Os interesses de grupo não determinam o interesse geral. Também não vale a pena ser ingénuo e o pior que se pode fazer em democracia é baixar os braços. Traduzindo a few good men: alguns homens e mulheres com dignidade podem mudar tudo.
sexta-feira, 15 de junho de 2007
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