domingo, 25 de outubro de 2009

Partir de dois inflexíveis princípios... e fazer renascer a SOREFAME.

Compatriotas:

Hoje muda a hora para a hora de Inverno. Temos 6 meses. 6 meses para pensar. Na Primavera temos de fabricar a primeira peça... na SOREFAME, que tem de voltar à vida!

Os dois princípios inflexíveis:


1) Portugal necessita de ligar os seus principais portos marítimos à rede ferroviária europeia (não associar para já isto à provinciana sigla "TGV"; vide em baixo sobre este ponto);

2) Portugal não se pode dar ao luxo de importar um comboio que seja. Todos os comboios serão construídos em Portugal.


1) É admissível que o cidadão comum, por comodidade de expressão e sob o fortemente irresponsável poder da comunicação social sobre a linguagem, use vulgarmente a expressão "TGV" para designar uns comboios que andam "muita depressa" lá para os lados da França.

Já não é normal que pessoas como José Sócrates e Manuela Ferreira Leite embarquem no mesmo provincianismo das conversas de café que se tem entre amigos. Mas talvez José Sócrates e Manuela Ferreira Leite não tenham toda a normalidade que seria exigível terem...

Falar de "TGV" (como eu odeio esta sigla, é que odeio mesmo, é-me repugnante!, parecemos uns parolos! É como aquela malta das empresas de "serviços" que trabalham para o trimestre e que só dizem "timing", "benchmarking", "pressing", ou como as tias que dizem "abat-jour", "chauffer"... ) em vez de se falar do essencial, que é

Bitola europeia,

faz lembrar as conversas dos ignorantes que confundem as características de um tecido com a etiqueta da marca do fato; o binário de um motor de automóvel com a sua potência; a qualidade intrínseca de uma obra com a fama do autor; a capacidade de um disco rígido com a velocidade de rotação e os tempos de acesso.

Hoje o que está a dar é: quantos cavalos? quantos Km/h? quantos Ghz? Quantos Gbytes? Para cima, sempre para cima, é o que toda a gente pensa que é melhor...

Perguntas de ignorantes, sem a mínima consciência de o serem.

Por que razão denomina constantemente a comunicação social "concurso para o TGV" um concurso preliminar lançado pelo Governo para a construção de linhas de bitola europeia de alta velocidade? O concurso é sobre caminhos de ferro, meus senhores, enquanto TGV é a marca de um comboio! Alguém pensaria dizer "Governo lança concurso para Mercedes" quando o Governo lançasse um concurso para uma estrada? Estaria tudo doido! Mas, neste momento, está mesmo tudo doido, só faltando chamar bois à carruagem e carruagem aos bois.

Mas lá chegaremos, a continuar assim a bebedeira colectiva... José Sócrates não sabe bem por que diz que o TGV é "fundamental", e Manuela Ferreira Leite suspendia o TGV sem pestanejar. Pena que ambos não tenham estudado mais durante o ensino obrigatório... Hoje estariam mais capacitados para pensar pela própria cabeça... Aliás, para pensar...

Como nem o primeiro nem a segunda sabem minimamente do que estão a falar (coitados, esta malta foi habituada desde pequena a comprar coisas de marca; daí a inclinação para apanhar a doença do TGV, que leva quem dela padece a pronunciar esta sigla para as câmaras de televisão pelo menos uma vez a cada 48 horas. É como os betos: não conseguem vestir roupa sem ser "de marca" - haja quem pague!), é natural que nada do que digam sobre o assunto faça o mínimo sentido.

Portugal precisa de transportar, acima de tudo, mercadorias de e para a Europa. Toda a Europa utiliza a bitola europeia, excepto Espanha e Portugal. (Não conto com pequenos troços totalmente secundários em que há ainda outras bitolas.) Espanha tem vindo a desenvolver uma extensa rede de bitola europeia, utilizando comboios que circulam a velocidades diferentes (É erro crasso pensar que em todas as vias férreas de bitola europeia circulam comboios ultra-rápidos. Mas é essa, infelizmente, a ideia que muita gente assimilou...).

Portugal precisa urgentemente de, em articulação com o País vizinho, ligar os seus portos marítimos às vias de bitola europeia que chegam de Espanha à nossa fronteira.

Essas linhas têm de ser, imperiosamente,

Linhas mistas,

isto é, linhas onde possam transitar comboios (sempre de bitola europeia, nunca é demais lembrar) quer de passageiros, quer de mercadorias. Por razões técnicas que qualquer leigo percebe, uma linha sobre a qual passem comboios de mercadorias tem de ser mais resistente (devido ao peso sobre cada eixo do comboio) do que uma simplesmente projectada para passageiros. Tem também de não ser muito inclinada; de outra forma, a locomotiva teria de ser capaz de um esforço de tracção descomunal...

O Ministério das Obras Públicas já revelou várias vezes a ideia de só construir linhas para passageiros, exclusivamente, deixando para mais tarde a construção de vias paralelas para as mercadorias. Esta ideia não tem ponta por onde se lhe pegue, e tenho a certeza de que nem o mais charrado dos arrumadores de automóveis de Lisboa ouviria esta ideia sem dizer logo de seguida: "Mas tá tudo parvo?" Seria como construir duas pontes uma ao lado da outra: uma para carros, outra para camiões... Claro que é um negócio que só pode ajudar um tipo de "dealers": os grandes empreiteiros das obras públicas, mais conhecidos como "patos bravos de alto calibre" (só abatíveis a zagalote grado... daí o nome) :)

(Se pensam que isto não foi já feito em Portugal, reparem bem: em 1966 foi inaugurada uma ponte que tem hoje 6 faixas de rodagem e via férrea dupla: em 1998, sob os auspícios desse grande (?!) enginheiro/Ministro/Lusopontense Ferreira do Amaral, foi construída uma ponte... ah... pois... sem comboio. Vêem como eles não gostam de fazer logo tudo de uma vez?)

Bem, de volta à seriedade.


2) Lisboa - Madrid a 350Km/hora. Fantástico! "A que preço, por favor? O quê? E ida e volta, há desconto?"

Desculpem lá mas não há dinheiro. Solução? É muito simples: construímos a linha de ligações de Sines/Setúbal/Lisboa até Elvas/Badajoz, e nuestros hermanos põem a circular entre Madrid e Lisboa os comboios que quiserem. Nós pomos os nossos, que a Sorefame renascida vai construir. Uns (os espanhóis) serão mais rápidos mas mais caros. Outros (os nossos) mais lentos e mais baratos (tarifa tipo Alfa). Depois é deixar o povo (aliás, os povos) escolher. A competitividade fez sempre bem. Somos portugueses, não somos espanhóis, e não é por os nossos vizinhos terem um Ferrari que nós também temos de ter! Da última vez que fui ao Porto e voltei paguei 34,90 ida e volta no Intercidades. Passei a viagem a ler e tudo me pareceu bastante confortável. Gostava muito de ir a Madrid e voltar com a mesma tarifa por Km que o Intercidades pratica. Podem fazer esse favor?

Por isso não me venham com a ideia de termos de importar comboios. Essa não. Importem o raio que vos parta, Srs. governantes, agora comboios não. Dou 6 meses ao Governo para ressuscitar a Sorefame. Não é um ultimato! Eu tinha lá poder para isso... :) É que o Governo, a continuar a defender a importação de comboios made in "lá fora", só se está a candidatar a uma coisa: cair.

Às vezes, não sei se não é isso que o Primeiro-Ministro, lá no fundo, no fundo, quer. Isto está tão mau que está ingovernável. Mas é possível dar a volta. Comecem pela Sorefame, pensem em construir comboios cá em Portugal para velocidades da ordem dos 220 - 260 Km/h e verão como até a oposição aplaude o Ministro das Obras Públicas.

Lembro que as locomotivas 5600 Siemens, feitas na extinta Sorefame com know how alemão, dão 220Km/h. Só não andam mais depressa por causa do mau estado das vias. Vias essas que estarão cada vez pior se o dinheiro, em vez de ser bem distribuído por toda a ferrovia nacional, se concentrar no projecto megalómano dos comboios a 350 Km/h (Ainda bem que não há comboios mais rápidos, ou o IVA já estava a 30% e o IRS a 60%! Este Governo é um autêntico caçador-recolector! Mas em 4 anos de maioria absoluta, curiosamente, não há um km de ferrovia de velocidade elevada novo!... As linhas Lisboa Évora e Lisboa Beja continuam por electrificar... Paradoxos das maiorias absolutas...)

Comboios importados, NUNCA, NUNCA, NUNCA. Os nossos comboios serão feitos por nós, portugueses!

PORTUGAL, sempre!

(Vide, sobre estes assuntos o EXCELENTE programa em
http://tv1.rtp.pt/programas-rtp/index.php?p_id=15928&e_id=&c_id=1&dif=tv&dataP=2009-10-17
entre o min. 4:14 e o minuto 23:46. Muito OBRIGADO a quem me enviou o endereço actualizado da RTPN.)

4 comentários:

Eduardo Miguel Pereira disse...

Excelente post, parabéns.
Advogo o mesmo há tanto tempo, e sempre me senti a pregar no deserto.
Comboios rápidos já nós temos, ou 220 Km/h não á rápido ?.
Arranjem lá maneira de renovar as linhas, que isso sim, é que importa.
E quanto à Sorefame, não podia estar mais de acordo.

Gabriel Órfão Gonçalves disse...

Muito obrigado!

Só para lembrar que o nosso Alfa Pendular, o mais rápido dos comboios portugueses, faz Lisboa-Porto em 2,5 horas. Tendo em conta que são 300 km, a velocidade média resultante é... 120 Km/hora.
Razão: péssimo estado da via. Algúem pode acreditar que um Estado que não consegue melhorar uma via de modo a torná-la pata para 220 Km/h pode ter vias e comboios para velocidades de mais de 300Km/hora?
A verdade é que quem nos governa fuma demasiadas ganzas...

Eduardo Miguel Pereira disse...

Gabriel, não sei quem é que fuma mais ganzas, se aqueles que nos governam, se aqueles que votaram naqueles que nos governam.
Foi só em Agosto ultimo que me iniciei nestas andanas bloguistas, e um dos meus primeiros posts foi precisamente sobre comboios, como poderá ver em :

http://chegateaqui.blogspot.com/2009/09/comboio-o-futuro.html

Gabriel Órfão Gonçalves disse...

Mande-me o seu mail para gabriel.orfao.goncalves@gmail.

Estamos a criar o Governo sombra que mandará verdadeiramente na política de trasnportes em Portugal. Já mandámos a Ota às urtigas; agora é acabar com a importação de comboios e começar a fazê-los cá dentro! SOREFAME a trabalhar JÁ!
Mai nada!

Portugal sempre!